Aos quinze anos debutei na vida. Já tinha o mesmo corpo que tenho
hoje. Meu irmão mais velho sumiu! Deu uma desculpa esfarrapada para
papai e mamãe e caiu na vida. Disse que iria para o Hawai tentar
vida nova e se tornar americano, até hoje não sabemos o que lhe
ocorreu. Ele me pediu que eu fosse levar a mala que estava pronta em
seu quarto. Peguei um taxi e cheguei ao aeroporto.
No aeroporto, ao
vê-lo embarcar meu coração bateu mais forte assistindo a decolagem
do avião. Ainda no aeroporto me encantei com o sorriso das
aeromoças, das comissárias de bordo e dos pilotos, UAU! Aquilo sim
que era profissão! Hoje em dia para ser aeromoça encara-se um curso
de cinco meses e se exige maioridade. No meu tempo, menores podiam
fazer o curso (mas não podiam trabalhar). Um grande sonho
vislumbrou-se na minha mente: Voar pelo mundo inteiro... Fui me
informar mais e soube que o curso era caro. Fui pedir a papai que –
atarefado com a entrega de linguiças- nem me deu muita atenção.
Bom, o sonho estava lá e bastava eu arquitetar sua realização.
Precisei esperar mais dois anos até vê-lo concretizado.
Em 1965 o mundo era muito diferente do que é hoje. Os carros eram
carburados, as TVs valvuladas e moda era a minissaia. Na praia
alguém passou a usar bikini ao invés de maiô. Houve a inauguração
da TV Globo.
Estava em voga a guerra do Vietna. E os hippies, “paz
e amor”, invadiram o pedaço. Eu desde os treze anos era a rainha
do bambolê lá na escola. O único que me derrotava era o Oswaldinho
mas como ele era de outra escola meu trono estava garantido (o
Flavinho era segundo lugar).
Depois do fiasco com o Aurélio minhas buscas pelo namorado ideal
se intensificaram, contudo, enquanto o cara certo não
aparecia eu me divertia com o cara errado mesmo. Por hora,
meus namoricos seguiam uma certa lógica. Se limitavam a olho no
olho; olho na boca; mão na boca; mão na mão... Boca na boca; olho
na coisa, mão na coisa... Mas dai não passava e o FABULOSO “coisa
na coisa” ainda ia esperar um pouco, embora eu já tivesse
alguma pressa...
Em 1965 a TV Excelsior organizou o primeiro festival nacional da
canção. A ganhadora foi a Elis Regina com “Arrastão”. Nós estávamos lá!
á. Pelo ótimo desempenho no ginasial (antigamente
se premiava mérito, hoje em dia nas escolas os que não conseguem
aprender são paparicados) minha escola nos deu como prêmio de
formatura um ônibus e fomos todos da minha trupe. Lá nos separamos
e eu não me fiz de sonsa, cai na gandaia. Achei uns hippies
cabeludos bonitões e me escangalhei de beijar na boca... Depois cai
nas garras de um mauricinho da época, de gravatinha (este pagou o
jantar) no dia seguinte voltei pros hippies. Não experimentei
drogas, sexo & Rock'n Rool porque a pressão familiar contra tudo
isso era muito forte e por mais libertária que minha índole fosse
havia limites. Trocamos telefones, eu e o mauricinho porque os
hippies nem tinham casa para instalar o telefone... A volta pra casa
foi divertida. A Sônia bêbada, A Juju descabaçada por um hippie de
outro grupo, a Ritinha apaixonada por um mauricinho e eu coçava a
cabeça feito uma doida, CARACA ! Tinha pegado piolho dos Hippies!! O
Flavinho tambem ficou em meio a uns hippies diferentões e estranhei
que a viagem toda até em casa ele - embora houvesse poltronas vagas-
se negou a sentar... Porque será??
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