sábado, 14 de abril de 2012

A garota do Meyer



Aos 16 anos entrei para o fabuloso colégio Pedro II. Dos meus colegas de ginásio só a Sônia conseguiu me acompanhar. O Científico da época era como o ensino médio de hoje, só que se aprendia.... O Científico da época era um padrão de formação que fazia oposição ao chamado Clássico, onde também se aprendia bastante.

 O colégio Pedro II reunia a nata da intelectualidade carioca. Só para citar um exemplo, havia o professor Aurélio Buarque de Hollanda (o do dicionário). Até entre os alunos havia figuras que ficariam famosas nos campos culturais, artísticos, políticos e científicos, ENTRETANTO, quero homenagear aqui os valorosos desconhecidos. Pessoas de valor que nunca ganharam notoriedade MAS que brilham anonimamente nas mais diversas áreas. Dentre estes, alguns da minha trupe. Era um mundo muito diferente da minha primeira escola. Muitas matérias, muitos professores, muitas ideias. Dentre as disciplinas novas, as que não tinham no ginásio, a que mais me encantou pela absoluta inutilidade foi a filosofia. Depois de assistir algumas aulas eu propus uma definição: Filosofia é a arte de buscar pêlo em ovo e filósofo é o cara que acha! 
Filosofia

Pus essa definição na prova, estava (hoje sei) na TPM e ao invés do professor me descontar ele me deu ponto... Ué... essa eu não entendi... Fui pedir explicação. Ele elucidou calmo e sorridente que para desmerecer a filosofia era preciso filosofar... E eu fiquei pensando nisso. Era impossível desmerecer a filosofia sem fazer uso dela mesma? Que curioso! A partir deste evento passei a me informar mais, ler mais e até que fui entendendo e até gostando da disciplina depois. Outra matéria interessante era Biologia. A Professora, materialista por excelência, tentou que tentou nos convencer da inexistência de Deus. Era comunista, o que era preocupante porque vivíamos em plena ditadura. 

Havia uns alunos dentre nós muito diferentes. Cabelo curto. Sem amigos. Baixinhos mas muito peludos para 16 anos. Hoje sei que eram militares infiltrados vigiando os movimentos políticos locais. Um desses era da minha turma. Volta e meia eu o pegava olhando babantemente para minhas pernas. Até que era simpático MAS minhas paqueras eram mais com os intelectuais, o que não faltava no PII. Havia então o DCE, Diretório Central dos Estudantes onde debates calorosos ocorriam sobre temas os mais diversos, quase sempre caindo na política MAS de vez em quando temas mais culturais eram levantados. 

Dentre tais temas havia o da liberdade sexual. Desde 1962 o Brasil produzia a pílula anticoncepcional. No inicio era cara e nem todas podiam MAS a partir de 66 ficou relativamente popular e uma jovenzinha de 16 anos podia pegar umas caronas no ônibus durante o mês para sustentar o medicamento. Antigamente estudante pagava passagem. Hoje em dia alguns alunos são até pagos para estudar... 

Não dá para falar sobre os anos 60 sem tocar no tema Beatles. Coqueluche da época, esses quatro de Liverpool revolucionaram a industria fonográfica e a cultura da época. ENTRETANTO, haviam os opositores que os acusavam de agentes do sistema de alienação cultural. O fato é que não havia um baile onde não se tocasse Yellow Submarine, Penny lane, Lucy in the Sky with Diamonds (LSD) e etc. Eu ainda não sabia mas teria oportunidade de conhecê-los mais tarde.

 Uma agradável surpresa para mim no meio do ano. Meu avô relatou uma braça da família que eu não conhecia e daí descobri que tinha uma prima da mesma idade no PII em outro turno.
Eu, prima Helô e outras.

 Prima Helô era uma graça! Morava em Ipanema era filha única e me convidou para conhecer o apartamento dela. Eu morava no Meyer e nada mais aprazível do que poder visitar a prima, ir a praia e pegar um bronze. Belo dia eu e Helô passeávamos na direção da praia, na Farme de Amoedo, quando fomos interpelados por um de nossos professores que tomava uma cerveja num bar com uns sujeitos que tocavam violão. Enquanto nosso professor nos cumprimentava eles -acho que muito tímidos- nada faziam além de babar no violão... Que coisa mais linda! Disse nosso professor (se fosse hoje seria assédio mas como era anos sessenta...). Nos despedimos e enquanto caminhávamos na direção da praia pudemos ouvir o violão dedilhar: Olha que coisa mais linda... Mais cheia de graça.... Prima Helô vestia uma saída de praia escondendo o corpo porque estava menstruada. Eu – ao contrário- toda serelepe no auge de minha forma em um bikini revelador... Sempre achei que a música fosse para mim...

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