Aos 16 anos entrei para o fabuloso colégio Pedro II. Dos meus
colegas de ginásio só a Sônia conseguiu me acompanhar. O Científico
da época era como o ensino médio de hoje, só que se aprendia....
O Científico da época era um padrão de formação que fazia
oposição ao chamado Clássico, onde também se aprendia bastante.
O
colégio Pedro II reunia a nata da intelectualidade carioca. Só para
citar um exemplo, havia o professor Aurélio Buarque de Hollanda (o
do dicionário). Até entre os alunos havia figuras que ficariam
famosas nos campos culturais, artísticos, políticos e científicos,
ENTRETANTO, quero homenagear aqui os valorosos desconhecidos. Pessoas
de valor que nunca ganharam notoriedade MAS que brilham anonimamente
nas mais diversas áreas. Dentre estes, alguns da minha trupe. Era um
mundo muito diferente da minha primeira escola. Muitas matérias,
muitos professores, muitas ideias. Dentre as disciplinas novas, as
que não tinham no ginásio, a que mais me encantou pela absoluta
inutilidade foi a filosofia. Depois de assistir algumas aulas eu
propus uma definição: Filosofia é a arte de buscar pêlo em ovo e
filósofo é o cara que acha!
Filosofia |
Pus essa definição na prova, estava
(hoje sei) na TPM e ao invés do professor me descontar ele me deu
ponto... Ué... essa eu não entendi... Fui pedir explicação. Ele
elucidou calmo e sorridente que para desmerecer a filosofia era
preciso filosofar... E eu fiquei pensando nisso. Era impossível
desmerecer a filosofia sem fazer uso dela mesma? Que curioso! A
partir deste evento passei a me informar mais, ler mais e até que
fui entendendo e até gostando da disciplina depois. Outra matéria
interessante era Biologia. A Professora, materialista por excelência,
tentou que tentou nos convencer da inexistência de Deus. Era
comunista, o que era preocupante porque vivíamos em plena ditadura.
Havia uns alunos dentre nós muito diferentes. Cabelo curto. Sem
amigos. Baixinhos mas muito peludos para 16 anos. Hoje sei que eram
militares infiltrados vigiando os movimentos políticos locais. Um
desses era da minha turma. Volta e meia eu o pegava olhando
babantemente para minhas pernas. Até que era simpático MAS minhas
paqueras eram mais com os intelectuais, o que não faltava no PII.
Havia então o DCE, Diretório Central dos Estudantes onde debates
calorosos ocorriam sobre temas os mais diversos, quase sempre caindo
na política MAS de vez em quando temas mais culturais eram
levantados.
Dentre tais temas havia o da liberdade sexual. Desde 1962
o Brasil produzia a pílula anticoncepcional. No inicio era cara e nem
todas podiam MAS a partir de 66 ficou relativamente popular e uma
jovenzinha de 16 anos podia pegar umas caronas no ônibus durante o
mês para sustentar o medicamento. Antigamente estudante pagava
passagem. Hoje em dia alguns alunos são até pagos para estudar...
Não dá para falar sobre os anos 60 sem tocar no tema Beatles.
Coqueluche da época, esses quatro de Liverpool revolucionaram a
industria fonográfica e a cultura da época. ENTRETANTO, haviam os
opositores que os acusavam de agentes do sistema de alienação
cultural. O fato é que não havia um baile onde não se tocasse
Yellow Submarine, Penny lane, Lucy in the Sky with Diamonds (LSD) e
etc. Eu ainda não sabia mas teria oportunidade de conhecê-los mais
tarde.
Uma agradável surpresa para mim no meio do ano. Meu avô
relatou uma braça da família que eu não conhecia e daí descobri
que tinha uma prima da mesma idade no PII em outro turno.
Eu, prima Helô e outras. |
Prima Helô
era uma graça! Morava em Ipanema era filha única e me convidou para
conhecer o apartamento dela. Eu morava no Meyer e nada mais aprazível
do que poder visitar a prima, ir a praia e pegar um bronze. Belo dia
eu e Helô passeávamos na direção da praia, na Farme de Amoedo,
quando fomos interpelados por um de nossos professores que tomava uma
cerveja num bar com uns sujeitos que tocavam violão. Enquanto nosso
professor nos cumprimentava eles -acho que muito tímidos- nada
faziam além de babar no violão... Que coisa mais linda! Disse nosso
professor (se fosse hoje seria assédio mas como era anos
sessenta...). Nos despedimos e enquanto caminhávamos na direção da
praia pudemos ouvir o violão dedilhar: Olha que coisa mais linda...
Mais cheia de graça.... Prima Helô vestia uma saída de praia
escondendo o corpo porque estava menstruada. Eu – ao contrário-
toda serelepe no auge de minha forma em um bikini revelador... Sempre
achei que a música fosse para mim...
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