Eu
sabia que iria sentir falta da Sempre Livre Fm. Sabia que iria
sentir falta do ambiente do DCE do PII. Sabia que iria sentir falta
dos professores, do colégio, dos colegas. Até do curso de
comissária eu sentiria falta, ENTRETANTO, a vida avança... No final
de 1968 me formei conjuntamente no meu científico do PII e era uma
comissária de bordo aprovada pela ANAC.
Curriculo pronto, sendo
enviado pelo correio às diversas empresas do país e até do
exterior. Meus olhos brilhavam. Orlando Marcos pirou na batatinha ao
imaginar-me livre, leve e solta voando pelo mundo. Enquanto estava
cursando tudo bem na cabeça dele, mas com a formatura o cara caiu
numa espiral de ciúme que me forçou – meio a contragosto –
romper com o namoro. Ele ficou desesperado. Passou a participar de
uns rachas mais perigosos envolvendo apostas e gangs da pesada,
assumindo o papel de badboy e etc. Fazendo questão de me relatar os casos um a um pelo telefone que eu
ainda atendia. Não adiantou nada a chantagem emocional. Simplesmente
parei de atender seus telefonemas. Ele que se dane! A vida segue.
Percebi então que se queria ser aeromoça não poderia ter
compromisso com ninguém, pelo menos no inicio de minha carreira.
Meu
sonho era integrar uma tripulação de um Boeyng 707, o mais moderno
da época.
Enquanto meus curriculos não surtiam efeito eu ia levando
a vida durante a semana principalmente me dedicando mais aos cursos
de Inglês e Francês enquanto persistia no trampo de fim de semana.
Já tinha acumulado uma boa poupança e decidi comprar a minha
primeira Lambreta.
Na loja de Lambretas adivinha quem era o vendedor?
Depois de muitos anos sem contato descobri que o Flavinho havia se
tornado vendedor de Lambretas... Muitos abraços e beijnhos.. Ele
estava ótimo! MAGÉRRIMO, vendia lambretas durante a semana e as
noites participava do ensaio de sua banda que (depois descobri) iria
estabelecer o conceito do qual derivaria nos anos setenta o grupo
“Secos e Molhados”. Ele era o próprio Sangue Latino em
pulsação.
Uma moça de lambreta desperta muito interesse nos
homens. Acho que eles fantasiavam muito que ela lhes desse uma
carona..... Porque será? Isso me deu uma ideia: Quem recusaria
receber carona de uma bela moça em sua Lambreta? E se eu oferecesse
esse serviço duplo de transporte e realização de fantasias? Pus
anuncio no jornal: Bela Moça oferece serviço de transporte
alternativo em sua Lambreta. MOTO-TAXI a domicílio. 5 Cr$/km.
Antes
de o anuncio fazer efeito eu fui divulgar a iniciativa empreendedora
entre os alunos e professores do meu antigo colégio. Por mais
estranhamente que possa parecer o professor de filosofia foi logo o
primeiro a requerer meu serviço. Alegou que tinha medo incontrolável
de moto e só teria segurança se se segurasse MUITO BEM na
piloto.... Até entendi... Saímos da entrada do PII e ele agarrado
nas minhas costas com um sorrisão na cara que pude observar pelo
retrovisor. Descemos a rua São Cristóvão até a Francisco Bicalho.
Fomos até a praça da bandeira, contornamos (olhei de novo no
retrovisor e sua língua estava para fora e os olhos giravam nas
órbitas), entramos numa sequência de ruas cheias de quebra-molas ele
pediu que eu acelerasse mais ainda nessa rua e pude acompanhar seu
corpo em espasmos. Ficou ali mesmo, no final... Desceu feliz e (acho
eu) com as calças meladas... Pagou 90 Cr$!, cinco vezes mais caro
que um taxi, mas disse que se tornaria cliente fixo... Ainda bem que
naquela época professores ganhavam bem... Se fosse hoje em dia ele
teria era de ir a pé de São Cristóvão até o Rio Comprido e bater
punheta depois....
Minha
iniciativa fez muito sucesso. Havia uma fila na porta do PII onde
ansiosos esperavam pelo meu retorno e pela própria vez. Havia uns que
pagavam não para ir do ponto A ao ponto B mas sim do ponto A ao
próprio ponto A, ou seja, só para dar uma gira... “O freques tem
sempre razão” - dizia meu pai. Essa empreitada me permitiu pagar
as primeiras prestações da Lambreta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário