sábado, 28 de abril de 2012

Maioridade => A vida finalmente!




Eu sabia que iria sentir falta da Sempre Livre Fm. Sabia que iria sentir falta do ambiente do DCE do PII. Sabia que iria sentir falta dos professores, do colégio, dos colegas. Até do curso de comissária eu sentiria falta, ENTRETANTO, a vida avança... No final de 1968 me formei conjuntamente no meu científico do PII e era uma comissária de bordo aprovada pela ANAC. 

Curriculo pronto, sendo enviado pelo correio às diversas empresas do país e até do exterior. Meus olhos brilhavam. Orlando Marcos pirou na batatinha ao imaginar-me livre, leve e solta voando pelo mundo. Enquanto estava cursando tudo bem na cabeça dele, mas com a formatura o cara caiu numa espiral de ciúme que me forçou – meio a contragosto – romper com o namoro. Ele ficou desesperado. Passou a participar de uns rachas mais perigosos envolvendo apostas e gangs da pesada, assumindo o papel de badboy e etc. Fazendo questão de me relatar os casos um a um pelo telefone que eu ainda atendia. Não adiantou nada a chantagem emocional. Simplesmente parei de atender seus telefonemas. Ele que se dane! A vida segue. Percebi então que se queria ser aeromoça não poderia ter compromisso com ninguém, pelo menos no inicio de minha carreira.

Meu sonho era integrar uma tripulação de um Boeyng 707, o mais moderno da época.

 Enquanto meus curriculos não surtiam efeito eu ia levando a vida durante a semana principalmente me dedicando mais aos cursos de Inglês e Francês enquanto persistia no trampo de fim de semana. Já tinha acumulado uma boa poupança e decidi comprar a minha primeira Lambreta. 

Na loja de Lambretas adivinha quem era o vendedor? Depois de muitos anos sem contato descobri que o Flavinho havia se tornado vendedor de Lambretas... Muitos abraços e beijnhos.. Ele estava ótimo! MAGÉRRIMO, vendia lambretas durante a semana e as noites participava do ensaio de sua banda que (depois descobri) iria estabelecer o conceito do qual derivaria nos anos setenta o grupo “Secos e Molhados”. Ele era o próprio Sangue Latino em pulsação. 

Uma moça de lambreta desperta muito interesse nos homens. Acho que eles fantasiavam muito que ela lhes desse uma carona..... Porque será? Isso me deu uma ideia: Quem recusaria receber carona de uma bela moça em sua Lambreta? E se eu oferecesse esse serviço duplo de transporte e realização de fantasias? Pus anuncio no jornal: Bela Moça oferece serviço de transporte alternativo em sua Lambreta. MOTO-TAXI a domicílio. 5 Cr$/km.

 Antes de o anuncio fazer efeito eu fui divulgar a iniciativa empreendedora entre os alunos e professores do meu antigo colégio. Por mais estranhamente que possa parecer o professor de filosofia foi logo o primeiro a requerer meu serviço. Alegou que tinha medo incontrolável de moto e só teria segurança se se segurasse MUITO BEM na piloto.... Até entendi... Saímos da entrada do PII e ele agarrado nas minhas costas com um sorrisão na cara que pude observar pelo retrovisor. Descemos a rua São Cristóvão até a Francisco Bicalho. Fomos até a praça da bandeira, contornamos (olhei de novo no retrovisor e sua língua estava para fora e os olhos giravam nas órbitas), entramos numa sequência de ruas cheias de quebra-molas ele pediu que eu acelerasse mais ainda nessa rua e pude acompanhar seu corpo em espasmos. Ficou ali mesmo, no final... Desceu feliz e (acho eu) com as calças meladas... Pagou 90 Cr$!, cinco vezes mais caro que um taxi, mas disse que se tornaria cliente fixo... Ainda bem que naquela época professores ganhavam bem... Se fosse hoje em dia ele teria era de ir a pé de São Cristóvão até o Rio Comprido e bater punheta depois....

Minha iniciativa fez muito sucesso. Havia uma fila na porta do PII onde ansiosos esperavam pelo meu retorno e pela própria vez. Havia uns que pagavam não para ir do ponto A ao ponto B mas sim do ponto A ao próprio ponto A, ou seja, só para dar uma gira... “O freques tem sempre razão” - dizia meu pai. Essa empreitada me permitiu pagar as primeiras prestações da Lambreta.

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