Aos seis anos, finalmente, me matricularam na escola. Como papai era
pão duro me pôs numa escola pública. Eu tive assim oportunidade de
conviver com muitos tipos diferentes de crianças e exercitar meus
talentos naturais. Fiz muitos amiguinhos, tinha o Flávio, a Jussara
que virou juju, a Lourdes que virou lulu, a Ritinha, a Sônia. Minha
trupe era inseparável. Juntos aprendemos a ler, escrever e bolar
picardias uns com os outros MAS não éramos ciumentos e de vez em
quando aprontávamos com estranhos também.
Escola pública - Minha turma anos 50 |
Nossa professora, ao se referir a cada trabalho ou exercício que
fazíamos, sempre relatava que o resultado da outra turma era melhor.
Com isso ela criou uma certa rivalidade entre a minha turma, a 101, e
a turma do corredor de frente, a 102.
Primeira professora - Dona Marocas |
A professora se aproveitava
desta rivalidade para nos impulsionar ao estudo, mas essa rivalidade
artificial era estressante. Ocorreu contudo que certa vez um menino
da 102 nos contou que sua professora fazia a mesma coisa, ou seja,
era uma estratégia entre as professoras que, na verdade, eram
grandes amigas e fingiam-se rivais para nos estimular... DESGRAÇADAS!
Começamos a maquinar nossa vingança! Eu então -na hora do recreio-
dei a sentença: Se elas eram amigas deveríamos estragar aquela
amizade! Iniciamos nosso plano
de vingança. Flavinho descobriu que ambas namoravam dois
irmãos gêmeos, Oliva e Olavo, ambos eram muito parecidos e faziam
questão de usar as mesmas roupas sempre.
Oliva & Olavo afinando a viola |
Juju contou pra gente que a
mãe dela sempre dizia que todo homem adora namorar qualquer mulher,
se der mole eles papam (na época achei esquisito isso de papar...).
Lourdes desconfiou que as duas sabiam disso e se faziam de rogadas
para poder variar um pouco... Fazia sentido e hoje entendo que elas
já eram chegadas a um Swing, o que era moralmente perturbador para
um ambiente de escola pública em 1956... Surgiu aqui nosso meio
de plantar a discórdia => Mostrar a diretora da
escola que elas influenciavam perversamente nossa referência de
relacionamento. Mas como fazer isso? Uma idéia brotou de minha
cabeça: IMITAÇÃO! Eu havia aprendido com o Oswaldinho rudimentos
da arte de beijar na boca, ensinei ao Flávio e dai nos convertemos
em instrutores de beijo na boca, a partir daquele dia, na hora do
recreio, nós púnhamos os meninos e meninas em fila e íamos
beijando e ensinando cada um (tirando os cabaços das boquinhas
virgens – BV), o Flávio com as meninas e eu com os meninos (depois
o Flávio quis mudar de fila mas eu não deixei...).
Eu e Flavinho |
Fizemos assim um
dia no recreio na minha turma e no dia seguinte convencemos a 102 a
participar (na verdade eles ficaram excitados de olho na nossa
performance do dia anterior e praticamente imploraram para que
fizéssemos o mesmo com eles). Treinamento concluído, fizemos
máscaras iguais e distribuímos as turmas em duplo casal com os
meninos usando as máscaras iguais. Na hora certa nos espalhamos
pelos corredores da escola, e na mesma hora exata começamos a tarefa
de nos beijarmos intercaladamente revertendo os meninos. Nossa
intelectualzinha de plantão, a Sônia, alertou que se somente um
duplo casal procedesse assim, seria chamado a atenção dele e
pareceria um caso isolado, mas se TODOS meninos e meninas se
envolvessem não haveria como nos culpar e advertir e pareceria ser
uma contaminação em massa... Eita menina precoce!!
Treinamento acirrado |
Assim procedemos
e foi um escândalo; cada faxineiro, cada professora, cada pedagoga
que via o ocorrido nos pegava pelo braço e nos levava até a sala da
diretora, pensando ser um único caso, contudo, o corredor a caminho
da sala da diretora já estava repleto de outras crianças trazidas,
uma balburdia, a ponto da diretora ter de mandar calar a boca e
entrar aos poucos para que explicassemos porque fazíamos isso, no
que todos passaram a relatar as peripécias das professoras que
chamadas a se explicar caíram em contradição... Elas ganharam uma
advertência e uma suspensão, enquanto nós, os coitadinhos,
ganhamos uma semana de férias para esquecer o “trauma” (?).
Comemoramos o sucesso de nossa vingança no aniversário da Ritinha
que ocorreu durante essas férias forçadas. Adivinha o que ficamos
fazendo??
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